De Sérgio Henrique Santos especial para a redação do Diário de Natal
Obviamente não se trata de um estudo empírico sobre o caso, mas apenas a versão de um site da internet, o Ashleymadison.com. Os dados não são oriundos de uma pesquisa de opinião com análise qualitativa de dados. Ainda assim, não deixa de ser uma curiosidade. É possível que a explicação para o fenômeno da infidelidade esteja no clima quente, ou talvez em ritmos frenéticos e sensuais como o forró e o axé. Quiçá um tantinho da cultura local, herdeira da miscigenação colonial? Bom, independente do motivo, o fato é que a região Nordeste também aparece no topo da lista em casos extraconjugais. “Os nordestinos são os amantes mais sensuais do país”, afirma Eduardo Borges, representante da empresa no Brasil, que lança oficialmente o site em Natal este mês de dezembro, depois de tão repentino sucesso na terra de Poti.
Os dados oficiais que mais se aproximam do assunto são os que foram divulgados recentemente nas Estatísticas do Registro Civil do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No ano passado, 179 casais no Estado se separaram e 1.115 se divorciaram em processos judiciais não consensuais. Entre os motivos, a conduta desonrosa ou a violação dos direitos do casamento. Outro campo fértil para as traições é a internet. Levantamento conduzido pelo instituto QualiBest, encomendado por uma revista nacional em julho passado, mostra que 41% dos brasileiros já tiveram algum tipo de interação virtual que pode ser considerado traição durante algum relacionamento sério. Desses, 57% são homens e 43% mulheres.
A psicóloga e sexóloga Cristina Hahn, que é brasiliense e mora em Natal há mais de 20 anos, afirma que os potiguares dão valor excessivo às aparências. “Com esse comportamento, muitas vezes é preciso manter intactos os laços do matrimônio por uma questão ou convenção social, mas por outro lado, vivencia o prazer de uma relação extraconjugal que carrega consigo o peso da proibição”, opina. Sempre há, acrescenta ela, justificativas culturais e biológicas para a traição. Em termos culturais, o Nordeste como um todo tem o estigma do homem machista, o famoso ‘pegador’. “É como se estivesse implícita nas relações de casal, uma certa ‘autorização’ ao homem para trair com a justificativa de que isso é normal, que faz parte da natureza masculina. É algo parecido com: ‘Homem que trai é viril, mulher que o faz é vadia’. A questão a ser levantada é que, visivelmente, o número de mulheres que traem seus parceiros aumenta a cada dia”, explica a sexóloga.
Isso se deve à educação da mulher, hoje mais emancipatória, com mais independência financeira, o que a torna emocionalmente segura e estável sobre seu valor feminino social, “consciente da abrangência do papel esposa-amante-mãe-profissional e, acima de tudo, uma mulher em busca da sua satisfação sexual”. Cristina Hahn diz que praticar a fidelidade ou a infidelidade é uma decisão comum. “Trair ou não trair, eis a questão. Ou melhor dizendo, eis a escolha. Todo e qualquer sentimento faz parte da condição humana. Os sentimentos não devem ser moralizados, não devem ser classificados em bons ou maus, certos ou errados, normais ou anormais. Os sentimentos apenas são”. A sexóloga explica que os sentimentos das pessoas geram desejos. Transformar o desejo numa ação é que requer poder de decisão. “Precisamos ter a consciência das consequências de nossas escolhas e assumí-las com coragem”.
A terapeuta de casais Syrleine Penaforte, afirma que a traição é motivada por diversos motivos e que, nesse caso, é preciso dar mais atenção ao casamento do que a traição. “Quando há a brecha para uma terceira pessoa na relação, a relação entra numa situação de vulnerabilidade e risco. Há pessoas que traem por compulsão, por questão de geração (pai também traiu), enfim, mas não enxergo a traição com uma conotação moral e religiosa, e sim como uma questão histórica e cultural”, afirma ela. A traição não é boa para a relação. “A responsabilidade da relação saudável é dos dois. Se um trai para tentar se manter no casamento, vai estar satisfazendo necessidades suas, não do casamento”.
Perfil dos infiéis
Perfil dos infiéis
Algumas curiosidades sobre o perfil dos infiéis chamam a atenção. As mulheres nordestinas, por exemplo, são as que mais se aventuram na hora de trair, apresentando preferências como uso de massagens eróticas, brincadeiras apimentadas com olhos vendados e até o convite de uma terceira pessoa para fazer parte do coito sexual. Tudo na base da traição. Essa é a fantasia sexual da comerciária Josi (nome fictício), 35 anos, casada com Carlos (nome fictício), 42, também comerciário. O casal natalense colocou anúncio em um site especializado em troca de casais sugerindo ingressar no mundo do swing. “Minha mulher sonha em ficar com dois homens ao mesmo tempo e eu desejo vê-la com outra mulher”, afirma o marido. Carlos e Josi têm dois filhos: um com dez e outro com 20 anos. Nenhum sabe do desejo dos pais.
A busca do casal continua. Ele conta que é preciso analisar as propostas, mas vai adiante em seu objetivo nos bares, restaurantes e casas noturnas da capital. Muitos curiosos ligam apenas por curiosidade, ou com propostas indecorosas. “Muitos casais gostam dessa prática em Natal. Vamos conseguir realizar esse nosso desejo”, diz, confiante. Para Carlos, o fato de querer mais duas pessoas na relação não se configura uma traição. Muito menos romance. “É tara mesmo”, classifica. “É uma forma de buscar prazer, apimentar a relação. Se os dois estão presentes não há traição”. Aspirante ao swing, ele credita o alto índice de infidelidade no RN ao clima e à praia. “Morei muito tempo em São Paulo. Lá tem épocas muito frias durante o ano. As pessoas ficam mais reclusas. Aqui não. O clima favorece”.
A sexóloga Cristina Hahn afirma que é preciso partir de dois grandes grupos de razões para explicar a traição. “O primeiro está ligado à qualidade da relação original. O segundo tem a ver com um processo individual da pessoa que trai e independe da qualidade de sua relação com o companheiro”, opina. “O homem consegue trair, a sociedade permite que ele traia. Uma garota de programa na balada resolve o problema. Já a mulher não. As opções dela geralmente ficam limitadas ao ambiente de trabalho ou ciclo de amigos, que são opções perigosas, porque alguém pode acabar descobrindo. O site foi criado para atender às mulheres insatisfeitas com o casamento e que querem trair o parceiro, seja seu marido ou namorado. Obviamente com todo sigilo”, diz Eduardo Borges, do Ashleymadison.com.
Apenas 25% por cento das usuárias cadastradas no site são mulheres solteiras que traem os namorador. Eduardo Borges conta que normalmente as solteiras estão em busca apenas de sexo casual, aquele praticado esporadicamente, com pessoas desconhecidas ou no primeiro encontro. O recomendável, obviamente, é fazê-lo de forma segura, com uso de preservativos. “Já a mulher casada normalmente trai porque quer se vingar de algo que o parceiro fez e não a agradou. Ela trai por carência. Se ao chegar em casa, o marido não conversa, se sai pra jantar, ele não dá atenção, ela se sente carente. Conhecemos histórias de casais juntos há 30 anos e que não fazem sexo há mais de cinco anos”.
Ranking da infidelidade
Ranking da infidelidade
Em número de infiéis cadastrados no Nordeste, o estado da Bahia é o campeão, seguido por Rio Grande do Norte, Pernambuco e Ceará, totalizando quase 30 mil usuários. Em âmbito nacional, a cidade nordestina melhor posicionada no “ranking da infidelidade” do site Ashleymadison.com é Salvador, que ocupa também o quarto lugar das cidades mais infiéis do Brasil, ficando atrás apenas de São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília. A cidade se destaca no número de mulheres solteiras cadastradas no site basicamente atrás de sexo: 46%, contra 25% da média nacional.
Diferente da capital baiana, Recife é a cidade brasileira que apresenta o mais elevado índice de membros casados: noventa por cento deles declaram manter atualmente um relacionamento estável. Acentuando o caráter “aventureiro” dos pernambucanos, os recifenses são os que mais se interessam por formar trios amorosos para satisfazer suas fantasias.
Quando o assunto chega no bolso, Fortaleza sai na frente. É a cidade nordestina que mais investe dinheiro com infidelidade de todo o Nordeste. Em média, os fortalezenses gastam no site 70% a mais do que os traidores das demais cidades da região. Já as mulheres da capital cearense se destacam pela busca desmedida pelo prazer: encontros às cegas, massagens e brinquedos eróticos fálicos estão entre as suas preferências sexuais.
“Eu tenho dois amores”, uma história de traição
Os nomes são fictícios, mas apenas isso. A história dúbia que vive uma natalense que divide seu tempo - e sua cama, com dois homens, é real e apimentada dia e noite. Eduarda Almeida, 40 anos, moradora da Zona Norte da capital, tem dois amores. A filha, já adulta, acoberta todas as aventuras da mãe. “Ela diz que não consegue entender como consigo manter as relações, mas leva numa boa. Pede apenas que eu tenha cuidado”, diz Eduarda. No relato desta reportagem os dois amores de Eduarda serão tratados como o “casado” e o “oficial”.
Um dos homens de Eduarda é casado, tem mais de 40 anos, pai e trabalha como segurança. O caso extraconjugal já dura quatro anos. Normalmente ele vai à sua casa durante os dias de semana, para evitar desconfiança da mulher. O outro namorado de Eduarda pratica surf e também tem mais de 40 anos. Por ser solteiro, é considerado o namorado oficial. “É quem sai comigo pras praias, festas e restaurantes. Me divirto muito com ele”, diz ela. O oficial frequenta mais a residência da amante à noite, ou nos finais de semana. Eduarda acha que ele gosta da relação, mas não sente peso na consciência ao trair porque sabe que ele também a trai. “Tenho certeza que ele me trai. Por isso minha consciência nunca fica pesada. Fica tudo na base da traição mesmo”. Simples assim.
Só que frequentemente ela se vê em situações constrangedoras. No final de novembro, por exemplo, o oficial estava dormindo em sua cama quando o casado chegou. “A sorte é que o portão estava com cadeado trancado”. A filha, apressada, foi atender ao chamado na beira da calçada. “Mãe, o que é que eu faço?”, questionou, na fresta da porta do quarto. Eduarda decidiu descer, mesmo com riscos dele querer subir para ficar com ela. “Disse que estava saindo pra comprar pão na padaria. Ele se contentou apenas em me ver”, despistou.
Faz um ano e cinco meses que Eduarda namora oficialmente o surfista. “No início ele sabia do outro. Hoje acha que a relação acabou”. Além de conciliar as duas relações, Eduarda afirma gostar dos dois. Só que de forma diferente. “Gosto do casado porque ele é muito atencioso, carinhoso comigo na cama. De vez em quando leva uma feira, ajuda a comprar as coisas lá em casa. Ele também entende meus problemas. Nós conversamos bastante. Já do outro eu gosto porque ele me dá conforto”, adianta. Ela afirma adorar a adrenalina de manter dois relacionamentos. “Gosto de ir para a cama com os dois. Cada um faz de forma diferente. Um é mais romântico e o outro mais agressivo, mais selvagem, sabe?”. Eduarda garante que gosta de aventuras, mas não aconselha a traição. “As pessoas têm muito preconceito, insultam na rua, ficam apontando”. Você se sente confortável assim? “Não sinto desconforto. Me sinto desejada”.
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