João Baptista Figueiredo, José Sarney, Fernando Collor de Mello e Itamar Franco têm muito em comum. Além de ex-Presidentes da República, eles foram também as autoridades que estavam sob responsabilidade de serem conduzidas pelo potiguar de Caraúbas, Luiz Arruda Silva, 64 anos, que hoje vive em Natal (RN).
Luiz Arruda foi o motorista particular dos quatro ex-Presidentes da República, entre maio de 1980 e agosto de 1994, quando se aposentou do serviço público federal. Trabalhava no Departamento de Segurança Pessoal do Presidente da República. Tem distintivo e fotografias para comprovar. Foram anos de serviço público prestado à Nação que ainda hoje são assunto das reuniões de família.
O potiguar que conheceu os bastidores do poder no Brasil.
Talvez sem perceber o quão importantes os momentos vivenciou, Luiz Arruda Silva revela um pouco da História do Brasil recente, marcado por, pelo menos, dois grandes acontecimentos contemporâneos: a redemocratização do país e a cassação do primeiro presidente da história do país. A O Poti/Diário de Natal, ele não conta como as coisas ocorreram conforme está escrito nos livros, mas revela o que ocorria do lado de fora das repartições pública de Brasília. Como esteve o tempo todo ali, aguardando a maior autoridade do país, o potiguar guarda relatos, desabafos, momentos de crise que ele guarda na memória. Muitos o motorista compartilha nesta reportagem.
Outros, pela própria natureza de seu ofício, terá que levar ao túmulo. Ele esperava os presidentes sairem de casa, os levava e trazia de compromissos oficiais nas embaixadas, ministérios, no Palácio do Planalto e também nas visitas oficiais.
Luiz entrou no Exército Brasileiro em 1966 e serviu em batalhões de Natal e Picos (PI). Em 1972 saiu da corporação e foi morar em Brasília (DF), a Capital Federal, que na época ainda era uma cidade jovem e muito promissora. Havia sido inaugurada em 1960 por Juscelino Kubitschek (1902-1976). Em 1978 o potiguar decidiu entrar novamente no Exército, desta vez através de concurso. Passou a trabalhar no Quartel-General, já na função de motorista.
Dois anos depois estava dirigindo para o último presidente da ditadura militar, João Baptista Figueiredo. "Tinha um vizinho que perguntou se eu queria trabalhar na Presidência da República. Sabia que era muito difícil por causa da gratificação, mas aceitei. Três meses depois, fui nomeado".
Até hoje, a Presidência da República não tem quadro de pessoal, nem civil nem militar, e ele ficou durante todo o período em que foi motorista lotado no quadro de funcionários do Exército, cedido ao Palácio do Planalto. Só que não foi tão fácil assim assumir a função. Ele fez provas, testes práticos, psicológicos e médicos antes de integrar a equipe de motoristas, na época formada por 15 homens, cinco escalados por dia de trabalho. Com o perdão do trocadilho, a rotina era corrida.
Rotina de motorista
Quando morava na Capital Federal, Luiz teve direito a um apartamento funcional no Guará II, distante 13km do Plano Piloto. Tinha também à sua disposição carro oficial para deixá-lo e pegá-lo em casa antes de ir ao Planalto. Os carros do presidente tinham que dormir na garagem da Presidência, nunca com os próprios motoristas. "Collor vendeu os apartamentos funcionais, e eu decidi comprar o meu, que depois vendi e comprei essa casa aqui em Natal".
A mulher, Adelcina, as duas filhas, o genro e a neta, já estão acostumados com as histórias de Luiz, e foram conhecer Brasília (DF) no ano passado. "Moramos 23 anos em Brasília. Conhecemos também os quatro ex-presidentes. Dona Marly Sarney era uma simpatia", diz Adelcina.
Ainda hoje Brasília fascina o motorista. Luiz poderia ter ficado por mais tempo trabalhando com os presidentes, mas não se arrepende de ter saído, embora não sinta falta da época. "Passou, né?", fala francamente. Só um detalhe curioso: dos quatro ex-presidentes não ficou nenhuma mágoa, apenas de outro, que não esteve sob a responsabilidade de seu volante. Fernando Henrique Cardoso (que ele conheceu ainda quando foi Ministro da Fazenda do governo Itamar), depois que tomou posse como presidente fez uma reforma administrativa na estrutura do Poder Executivo e congelou várias gratificações, incorporando-as ao salário do funcionalismo.
"Como não me aposentei como motorista do presidente, já que não havia quadro próprio, fiquei recebendo apenas o salário, como qualquer outro aposentado do Exército".
Ele acredita que pela responsabilidade da função, merecia mais do que recordações, fotografias e o distintivo que recebeu. Pela experiência lado a lado com o poder, Luiz sempre acompanha o noticiário nacional. Gosta de ler jornais e sempre observa o cenário político, em especial o que fazem os presidentes depois que ele deixou o volante do carro oficial. Com relação a Luiz Inácio Lula da Silva, que sucedeu FHC, e a atual presidente, Dilma Rousseff, o motorista apenas observa e imagina como deve ser o comportamento deles. "Acho que Lula é aquele sujeito mais popular, imagino que ele seja inclusive brincalhão. Já a Dilma mostra ser mais exigente. Deve ser mais durona".
Com informações do DN Online
Nenhum comentário:
Postar um comentário