Veículos relacionam as marchas a um sentimento de insatisfação popular
'The Guardian' e 'El País' colocaram manifestações na primeira página
As manifestações que tomaram as ruas das principais capitais do Brasil e pararam o país na noite desta segunda-feira foram noticiadas com destaque pelos principais jornais e redes de TV do mundo. A cobertura, de uma forma geral, foi marcada por tentativas de explicar como as origens dos protestos – o reajuste na tarifa do transporte público e um conflito com a Polícia Militar em São Paulo – culminaram em uma enorme variedade de reivindicações. Na maioria dos casos, os correspondentes estrangeiros procuraram relacionar as marchas pelas ruas a um sentimento de insatisfação popular com a baixa qualidade dos serviços públicos, corrupção e altos gastos governamentais com eventos esportivos como a Copa do Mundo.
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No jornal The New York Times, o texto afirma que o país viu "uma notável exibição de força para uma agitação que começou com pequenos protestos contra o aumento de tarifa de ônibus e evoluiu para um movimento mais amplo por parte de grupos e indivíduos enfurecidos com uma série de questões, incluindo o custo de vida elevado e extravagantes projetos de novos estádios". O diário americano ainda traça um paralelo com os recentes protestos na Turquia, marcados por confrontos com a polícia, e afirma que manifestações tão amplas são relativamente raras no Brasil, mas o país parece estar se dirigindo a "uma nova fase de interação entre manifestantes e líderes políticos".
"O Brasil experimentou uma de suas maiores noites de protestos em décadas", relata o britânicoThe Guardian na reportagem "Protestos no Brasil entram em erupção em enorme escala". Para o jornal, coincidindo com o início da Copa das Confederações, as passeatas juntaram uma ampla coalização de gente frustrada com o aumento dos custos e baixa qualidade dos serviços públicos, desigualdade social e corrupção. Também na Grã-Bretanha, o site da rede BBC destacou que as marchas aconteceram em pelo menos dez cidades, incluindo a capital Brasília, e que começaram semana passada, após o anúncio do aumento de tarifas de ônibus.
"Muitas manchetes nos anos recentes sobre os brasileiros foram sobre os milhões que saíram da pobreza, um país buscando uma chance de aparecer melhor no cenário mundial ou uma superpotência agrícola. Mas, para muitos brasileiros, as expectativas não parecem ter sido acompanhadas por resultados", escreve o editor da publicação em São Paulo. Já a rede americana CNN lembrou que alguns manifestantes se inspiram no movimento Occupy Wall Street e usam as conhecidas máscaras do grupo de hackers ativistas Annonymous.
Galeria de fotos: Protestos param o país
O jornal El País, da Espanha, afirma que as manifestações fazem surgir no Brasil uma geração de "indignados", em referência a como ficaram conhecidos os milhões de jovens espanhóis afetados pela crise econômica e que foram em massa às ruas em 2011 para pedir mudanças no país. No caso do movimento brasileiro, o diário madrileno diz que os manifestantes "saíram do Facebook e tomaram as ruas do Brasil como não se lembrava desde a época em que terminou a ditadura". O caráter difuso das reivindicações foi destacado: "Nos cartazes tinha de tudo. Desde o clássico 'Faça amor, não faça guerra' a 'Liberdade para (Julian) Assange', escrito em inglês, e 'Não venha para a Copa do Mundo', também em inglês".
'The New York Times' e BBC noticiam protestos no Brasil
No argentino Clarín, o destaque foi para a depredação do prédio da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. Mas o jornal , que também chamou os manifestantes de "indignados brasileiros", ressaltou que a maioria dos participantes defende marchas pacíficas para evitar "batalhas campais" como a ocorrida na quinta-feira passada em São Paulo.
Eleições – Para o Financial Times, a manifestação desta segunda mostrou que "os protestos se tornaram uma expressão geral de descontentamento com a classe política da nação" e, apesar de não serem dirigidos especificamente à presidente Dilma Rousseff, eles ocorrem num momento em que Dilma luta contra um crescimento econômico medíocre e se prepara para as eleições do próximo ano. Há, portanto, um alerta para o governo petista que busca a reeleição.
O francês Le Monde também comentou a situação de Dilma e ressaltou a única declaração da presidente, no sentido de acalmar ainda mais os ânimos – que estavam acirrados até a semana passada. Em sua primeira manifestação oficial desde o início dos protestos, Dilma afirmou simplesmente que "manifestações pacíficas são legítimas e próprias da democracia" e é "próprio dos jovens se manifestarem".
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