Numa manhã aparentemente normal, pais levaram seus filhos para a escola.
A ideia desses trabalhadores é tentar dar um futuro melhor para essas crianças, tirá-las das ruas, livrá-las da bandidagem cada vez mais frequente, que nos torna reféns de nós mesmos a cada dia.
O problema é que nem tudo acontece como é planejado. Um psicopata invade a escola e, sem motivos aparentes, termina, na hora, com a vida de 12 crianças inocentes e, a longo prazo, com outras. Afinal, o que comentar do trauma dos sobreviventes?
Ao ler relatos de crianças e professores da escola é que se pode ter uma mínima noção do que aconteceu naqueles minutos intermináveis.
De uma hora para outra, ouviu-se disparos e, nesse momento, são várias as reações. Correr, gritar, chorar, desesperar, rezar? Fazer isso tudo ao mesmo tempo? Não é possível prever as reações, elas fogem do controle de qualquer um.
Crianças atingidas, crianças ameaçadas, professores que não podem fazer nada de extraordinário para proteger seus alunos, afinal, além de se salvarem, tinham que tentar controlar a situação de turmas inteiras.
Nessas horas, cada um faz o que vem à cabeça. Corre sem rumo, sem pensar. Alguns caem, tropeçam naquelas vítimas que já estão no chão, escorregam no sangue de colegas que há pouco estavam contando histórias no pátio, antes de subirem para as salas. Caos.
Enquanto isso, o criminoso está lá, impiedoso, com duas armas em punho, com uma habilidade inacreditável, com uma ação inexplicável.
Por que fazer isso? O que passa na cabeça de uma pessoa como essa? Tirar a vida de crianças que ele nunca viu na vida, pessoas que nunca fizeram nada contra ele?
Será culpa do bullying? Será culpa do computador que permitia o acesso a qualquer informação que pesquisasse? Será culpa de uma possível família ausente? Culpa de um governo omisso?
Nada justifica.
Há relatos de que o assassino foi massacrado na infância por seus colegas de classe. Era tido como o ‘patinho feio’ da sala, aquele que sempre era alvo das zoações. Isso serve de explicação?
Matar meninas, já que aquelas de sua época eram as principais causadoras de sua falta de autoestima, é uma solução aceitável?
Não dá para entender, não dá para acreditar, não para aceitar.
E o pior ainda é saber que ele estava fadado a cometer uma atrocidade a qualquer preço. Várias notícias contam os planos que ele tinha de sequestrar um avião, de atacar o Cristo Redentor.
Não é possível cobrar segurança da escola. O maníaco era um ex-aluno e qualquer desculpa relativamente real o faria entrar ali.
Não é culpa instantânea do governo. O problema é muito maior que o assassino ter conseguido as armas.
Não é culpa dos pais dele, que não estão mais entre nós, mas, se estivessem, morreriam de desgosto. Afinal, qual seria o sentimento de ver um filho, principalmente adotivo, fazer isso?
Afinal, alguém sabe de onde vem a culpa?
Para piorar, é triste ver a exploração do drama alheio com âncoras da televisão brasileira. Que a expressão ‘âncora’ não seja interpretada como a definição jornalística, mas de um jeito literal, de um objeto que afunda e não permite o desenvolvimento (de uma sociedade, no caso). Para exemplificar, dois nomes que dispensam comentários: Sônia Abrão e Ana Maria Braga, que fizeram da tristeza dos outros, matérias explícitas de sofrimento, em busca de pontos de audiência.
E daqui para frente? Como ficarão as crianças que presenciaram esse filme de terror ao vivo, que foram coadjuvantes dessa história que ninguém queria ter visto?
O que podemos fazer para evitar isso? Você que cria seu filho para ser o mais popular e o mais respeitado da turma, a qualquer preço, está na hora de começar a rever seus conceitos. Aquela velha máxima de ‘não traga desaforo para casa’ deve ser tida como conselho diário para as crianças? Incentivar seu filho a não aceitar provocações, mas provocar para mostrar que é homem ou que é uma mulher esperta e respeitada é mesmo válido?
Muitas perguntas, muitas reflexões, poucas respostas.
Um desorientado calou um país. Matou famílias. Deixou milhares de brasileiros em silêncio, sem reação, de castigo.
De um lado do muro.
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